DOM TÁVORA | Missão do FIDA visita projetos de pesca no Baixo São Francisco

Projetos comunitários de aquicultura, pesca artesanal e carcinicultura em dez povoados recebem investimento de R$ 2,9 milhões

Pescadores e pescadoras dos povoados Saramem (Brejo Grande) e Serrão (Ilha das Flores) receberam, essa semana, a visita de consultores do Fundo Internacional de Desenvolvimento Agrícola (FIDA), que estão em missão de supervisão ao Projeto Dom Távora. O projeto é realizado pelo Governo do Estado, por meio da Secretaria de Estado da Agricultura, do Desenvolvimento Agrário e da Pesca (Seagri), e recebe recursos internacionais para combater a pobreza em 15 municípios sergipanos com baixo Índice de Desenvolvimento Humano (IDH).

“As visitas fazem parte do nosso trabalho de acompanhamento e orientações aos projetos apoiados pelo FIDA no Brasil. Nossa intenção é contribuir com o avanço na implementação das ações e poder ouvir as pessoas da comunidade. Elas têm muito a contribuir com experiências que podem ser repassadas para outras regiões”, disse o Coordenador Técnico para Investimentos Produtivos e Comercialização do FIDA, Emmanuel Bayle, em reunião com a comunidade.

Segundo o engenheiro de pesca e consultor do Projeto Dom Távora, Marcelo Chamas, as atividades produtivas da aquicultura e pesca estão recebendo apoio financeiro significativo no Baixo São Francisco. São R$ 2,9 milhões investidos em 14 projetos comunitários que envolvem aquicultura, pesca artesanal e carcinicultura, nos povoados Saramém, Resina, Brejão dos Negros, Serrão, Bolivar, Bongue, Saúde, Betume, Santana dos Frades e na sede de Brejo Grande. Conforme dados da Seagri, a Associação do Povoado Saramém tem 36 famílias atendidas, que receberam R$ 199.620,00 para implantação projeto de pesca artesanal e ações na área de turismo de base comunitária. Já a Associação do Povoado Serrão, com 26 famílias de pescadores, recebeu R$ 125.095,63 para compra de barcos motorizados, redes, outros apetrechos de pesca e freezer.

“No caso dos projetos do Saramem e Serrão, os recursos estão sendo aplicados na pesca artesanal para renovação da frota de barcos, compra de motores para as embarcações, redes e apetrechos para pesca de peixe grande e equipamentos salva-vidas. Em alguns projetos, as comunidades estão inovando e diversificando as atividades produtivas com a inclusão do turismo rural. É o caso do Saramem, Resina e Brejão dos Negros, mas o maior volume dos investimentos é para pesca e aquicultura”, explicou Marcelo Chamas.

O Saramém

A população do Saramém é remanescente da antiga vila de pescadores do Cabeço, destruída pelo avanço do mar há cerca de 20 anos, conta a presidente da Associação de Doceiras e Artesão do Povoado Saramém, Maria Orlanda dos Santos. “Tivemos que sair do Cabeço e recomeçar nossas vidas aqui como doceiras, pescadoras e artesãs. E a luta é assim: acompanhamos nossos maridos ou filhos na pesca, quando é no defeso – entre novembro e março -, fazemos doces e artesanato para complementar a renda”, disse a presidente.

A renda que vem da pesca e da venda dos doces ou artesanato chega a mais de um salário mínimo por mês para cada família, segundo Maria Orlanda. “Tem semanas que não conseguimos trazer nada da pesca, fica difícil sustentar a família, então aprendemos a fazer a cocada baiana e o artesanato com a palha do Ouricuri. Depois a gente mesmo vende para os turistas que visitam a foz. Mas nós queremos mesmo é terminar a construção dos barcos e comprar logo as redes porque agora no inverno tem muita curimã, é época boa de pescar e ganhar dinheiro”, acrescentou Maria.

O pescador e membro da Associação, Ronildo dos Santos, representante da comunidade no Programa de Monitoramento Participativo do Desembarque Pesqueiro (PMPDP), apoiado pela Petrobras, apresentou a apuração de 2018. Segundo ele, o programa apresentou o resultado médio de 4,8 toneladas/mês de pescados comercializados no ano passado, só no povoado Saramém. Ronildo diz que esse é o resultado real e seguro da pesca, em rio e em alto mar, feita pela frota do povoado Saramém. O levantamento inclui espécies como Caranguejo, Pescadinha, Robalo, Xaréu, Tainha, Carapeba, Curimã, Pescada, Bagre, Boca-mole entre outros, pescados.

Jonata Rosa, de 31 anos festeja o progresso que alcançou na atividade. “Fui criado pescando na praia com meu pai. Agora, com o Projeto Dom Távora, tenho meu próprio barco motorizado e ainda vamos receber as redes. Nunca pensei que isso fosse possível. O máximo que a gente fazia era pegar uma parte do que recebia do defeso para consertar a rede ou uma reforma a velha embarcação. É um sinal de que as coisas estão melhorando”, disse.

Povoado Serrão

Com os pescadores do Povoado Serrão, em Ilha das Flores, a equipe do FIDA conheceu outra realidade de trabalhadores que exploram a pesca no Rio São Francisco. O presidente da Associação, José Ronaldo Dos Santos, disse que eles sobrevivem da pesca do Carapeba, Piau, Xira, Piranha e Tucunaré. “Se a gente vender na feira rende mais. Enquanto o atravessador compra nosso peixe de primeira por R$ 15 e R$ 17, na feira podemos vender entre R$ 20 a R$ 25. Esse problema não é fácil resolver em curto prazo, porque o pescador precisa do dinheiro, fica agoniado e vende logo por um preço baixo. Cada um vende sua pesca separado, mas com a conclusão do projeto queremos mudar. Vamos fazer um trabalho coletivo. O freezer que estamos adquirindo pelo Dom Távora vamos armazenar o pescado para vender na feira com o preço bom”, revela Ronaldo.

Para o pescador Antônio Otávio, além do que foi aprendido sobre a compra dos equipamentos e sobre a organização da associação, têm sido de grande ajuda os barcos motorizados e as redes de boa qualidade. “Uma rede fraca a gente joga no rio e ela vem toda rasgada do siri. Com uma rede boa como essa do projeto, podemos passar de dois a três anos sem preocupação com material. Agora é trabalhar pra ganhar o sustento”, completou .

O especialista em aquicultura do FIDA, Richard Abila, orientou os pescadores a pensar em práticas sustentáveis. Quais medidas eles poderiam tomar para o peixe não desaparecer. A provocação de Richard despertou um bom debate, fazendo surgir ideias como devolver ao rio os peixes pequenos, fazer um trabalho educativo junto às colônias de pescadores para respeitar o defeso, e parcerias com os órgãos ambientais. Richard percebeu que existe naquele pequeno grupo de pescadores uma relação de respeito com o meio ambiente.

Presenças

Participaram da visita os especialistas do FIDA Lucianna Matte [Aquisições e Contratações]; Rodrigo Dias [Monitoramento e Avaliação]; o coordenador de Desenvolvimento de Negócios Rurais do Projeto Dom Távora, Fábio Melo Carvalho Moraes; o coordenador regional da Emdagro e da Unidade Técnica Local do Projeto Dom Távora, Paulo Roberto Barbos;  e os técnicos da unidade local do Dom Távora, Ericka Carneiro Leão, Gilmar Nunes e Natalice Aparecida Scaramelo.

| Fotos: Pritty Reis 

Governo

Última atualização: 18 de maio de 2019 15:16.

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