Instituições celebram 18 anos de educação na reforma agrária em Sergipe

Um momento para comemorar conquistas, ouvir relatos dos beneficiários, reafirmar compromissos dos que lutam pela educação no campo e indicar sugestões para continuidade do Programa, assim foi o encontro que marcou a celebração estadual dos 18 anos do Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera). O evento foi realizado esta quinta-feira, 5 de maio, no auditório da Superintendência em Sergipe do Instituto Nacional de Colonização e Reforma Agrária (Incra) e contou com a participação de alunos do programa, além de representantes das instituições parceiras e deputados.
Pronera é uma política pública de educação para assentados da reforma agrária que nasceu a partir da luta dos trabalhadores do campo organizados em movimentos, principalmente o Movimento Sem Terra (MST), reivindicando terra e direitos sociais, que surgiu na década de noventa em meio ao contexto de diversos conflitos pela terra e altos índices de analfabetismo no meio rural.
O secretário de estado da Agricultura, Esmeraldo Leal, que no ato representou o governador Jackson Barreto, recordou com emoção sua participação enquanto militante do MST nos momentos iniciais de construção de uma proposta de educação para os camponeses assentados de reforma agrária e acampados. “O estado de Sergipe tem um peso importante na história da criação do Pronera. Já na década de noventa, tínhamos um movimento forte de militância na educação do campo com a contribuição da UFS, e enviamos um número significativo de representantes para o I Encontro Nacional das Educadoras e Educadores da Reforma Agrária – Enera, que aconteceu em Brasília”, disse.
“Hoje não realizamos apenas um ato de comemoração, mas também um ato de resistência parque o Pronera nasceu da luta dos trabalhadores e terá vida longa. Um abraço e parabéns a todos os que ajudaram a construir essa história”, acrescentou Esmeraldo.
Avanços
Segundo dados do Incra, o Pronera tem possibilitado o acesso à educação formal aos assentados da Reforma Agrária, promovendo superação dos altos índices de analfabetismo e a elevação da escolaridade, utilizando metodologia de ensino contextualizado à realidade do campo e o desenvolvimento de Projetos de Assentamento.
Wesley Menezes, superintendente substituto do Incra em Sergipe disse que, no estado, o Pronera já beneficiou diretamente 909 agricultores assentados e seus filhos, oferecendo ensino de educação básica (alfabetização, ensino fundamental e médio), técnico profissionalizante e cursos superiores e de especialização.
“Para a formação superior, o programa já ofereceu, em parceria com a UFS, cursos de Pedagogia da Terra e Engenharia Agronômica, que somados, asseguraram a graduação de 97 jovens, além do curso de Residência Agrária, para profissionais já formados e que atuam nos assentamentos sergipanos. Hoje, o programa desenvolve, por meio do Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia de Sergipe (IFS), um curso tecnólogo em Agroecologia, com 50 alunos matriculados” relata Wesley.
Ele também conta que o Pronera possui um novo curso já aprovado para Sergipe. Destinado à formação de técnicos em Saúde Bucal, o curso, que deverá entrar em funcionamento nos próximos meses, será desenvolvido por meio de uma parceria com o IFS e Governo de Sergipe.
Representando a coordenação do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), Gislane Reis, destacou que o programa contribuiu para a qualificação profissional de assentados da reforma agrária e que o aniversário é a simbologia da continuidade da conquista da classe trabalhadora.
“Um exemplo da qualificação profissional é a assistência técnica em Sergipe, onde a maioria de seus membros foi formada no curso de agronomia pelo Pronera. São alunos que vieram do campo e hoje estão fazendo assistência técnica de qualidade nos assentados de reforma agrária”, diz Gislane.
Ela relatou que, como assentada, filha e neta de assentados, graças ao Pronera teve a oportunidade de ingressar no curso de Licenciatura em História pela Universidade da Paraíba e, recentemente, fez especialização em Residência Agrária em Sergipe. “Agradeço também à luta do MST. Se o movimento não tivesse lutado por esta pauta, não teríamos formado tantos jovens de reforma agrária no campo”, acrescenta.
Aos 60 anos, o pedagogo Gilberto Aristides dos Santos relatou sua experiência durante o encontro. “Fui alfabetizado com quase 40 anos, depois fiz magistério pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Pedagogia da Terra, pela (Universidade) Federal de Sergipe (UFS) e pós graduação em Economia Política pela Universidade Federal do Espírito Santo (UFES). O Programa Nacional de Educação na Reforma Agrária (Pronera) mudou tudo na minha vida”, contou.
A Pedagogia
Maria do Carmo Oliveira da coordenação do Curso de Agroecologia do IFS do município de São Cristóvão falou do diferencial pedagógico do programa. Segundo ela, “o Pronera procura aliar a pedagogia da alternância com a pedagogia da terra, ou seja, é permitir que o educando estude um tempo específico fora de seu período de plantio e colheita, que chamamos de tempo escola, e volte para sua localidade, que chamamos de tempo comunidade para qualificar seu conhecimento. Isso aliado com a pedagogia da terra trazendo os elementos da luta da mística, da cultura, da solidariedade do trabalho”, disse Maria.
Participaram da mesa de abertura o superintendente do Incra, Wesley Menezes, o representante da diretoria nacional do Pronera, Fabrício Souza, o secretário de estado da Agricultura, Esmeraldo Leal, a deputada Ana Lúcia, o ex-superintendente do Incra Antônio Fontenele, que representou o deputado João Daniel, a representante do IFS, Maria Inêz, e a representante da direção nacional do MST, Gislene Reis.
Atualizado: 5 de maio de 2016, 13:50